O local situa-se no sopé noroeste da Colina do Monte. Entre 2010 e 2012, o trabalho de prospecção arqueológica levou à descoberta de um grande fosso escavado no sub-solo rochoso. O fosso, com 9,9 metros de profundidade e uma abertura ligeiramente circular, apresenta quatro paredes de forma regular, com as marcas do trabalho de cinzel ainda evidentes em vários sítios. A fase de escavação e remoção de detritos dos Vestígios Arqueológicos do Fosso na Rua de D. Belchior Carneiro foi concluída em 2020-2021, tendo-se encontrado muitos utensílios de uso diário, tais como fragmentos de cerâmica e porcelana, bem como peças de cobre e ferro e elementos arquitectónicos. Segundo análise, os objectos escavados datam principalmente do período do final da dinastia Ming e início da dinastia Qing. Deduziu-se assim que a construção do fosso remonta, o mais tardar, ao período entre o final da dinastia Ming e o início da dinastia Qing, o que coincide com o período de funcionamento do Colégio de S. Paulo (1594-1762). Portanto, acredita-se que os Vestígios Arqueológicos do Fosso na Rua de D. Belchior Carneiro faziam parte de uma grande instalação que existia dentro do antigo Colégio de S. Paulo, que foi mais tarde gradualmente enchida, após o encerramento do Colégio.
Desde a sua fixação em Macau, os portugueses utilizaram a cidade como base para o comércio externo. No final da dinastia Ming e início da dinastia Qing, Macau tinha já estabelecido três principais rotas comerciais marítimas: 1) Lisboa-Goa-Malaca-Macau; 2) Macau-Nagasaki, no Japão; e 3) Macau-Manila. Mercadorias chinesas tais como a seda, a porcelana e o chá eram reexportadas de Macau para todo o mundo e foi descoberto no fosso um grande número de pedaços de porcelana Kraak, principalmente do período Wanli até ao Chongzhen da dinastia Ming, sendo maioritariamente provenientes principalmente dos fornos não oficiais de Jingdezhen, na província de Jiangxi. Desde a década de 1990, têm sido recolhidos em vários locais de Macau incluindo o Largo de Santo Agostinho, a Rua das Estalagens, a Rua dos Mercadores, etc., uma grande quantidade de fragmentos de porcelana Kraak, com decorações únicas e estilizadas, com bordas decorativas alternadas, marioritariamente com representações de flores, pássaros, insectos e peixes.
O grande número de fragmentos de porcelana que foram desenterrados na área dos Vestígios Arqueológicos do Fosso na Rua de D. Belchior Carneiro comprova que um elevado volume de porcelana de exportação foi transportado do Continente para Macau e depois reexportado para destinos ultramarinos. Isto confirma o papel de Macau como importante porto de trânsito e plataforma comercial ao longo da Rota Marítima da Seda, que ligava o Oriente ao Ocidente, conforme bem demonstrado pelas arqueológicas que foram encontradas.