Situado na Colina da Guia, o cemitério está rodeado por um muro de pedra, com a entrada principal na Estrada dos Parses. Acima do pórtico de entrada estão gravados o ano da sua construção, “1829”, e a designação em inglês, “Parsee Cemetery”. À entrada, existe uma escadaria trapezoidal que conduz os visitantes à área do cemitério propriamente dito, que está rodeado de exuberantes árvores centenárias num ambiente sereno, que tem a tranquilidade de um jardim. O cemitério possui 14 túmulos de granito, organizados respectivamente no primeiro e segundo níveis e voltados para nascente.
Os parses são uma comunidade minoritária da Índia, seguidores do Zoroastrismo, que se espalhou a partir da Pérsia até à Índia e ao redor do mundo. Em chinês, os parses eram popularmente chamados “Bak Tou” (Cabeças Brancas), e o Cemitério Parse era também conhecido como Cemitério dos Cabeças Brancas, devido aos turbantes brancos que os membros desta comunidade usavam. Como os zoroastristas praticavam sepulturas a céu aberto, os túmulos serviam apenas para fins memoriais, sem restos mortais no seu interior. Cada túmulo, de formato rectangular, tem dois pequenos níveis de embasamento, com uma pequena estrutura em abóbada no topo dos túmulos. Todos os 14 túmulos são do mesmo tamanho e material, reflectindo a ideia dos Parses da igualdade nas cerimónias de enterro, sem distinção entre ricos e pobres, ou diferenciação entre castas sociais.
A partir da segunda metade do século XVIII, vindos da costa ocidental da Índia, os parses chegaram na esteira dos portugueses para comerciar em Macau e no Delta do Rio das Pérolas, aqui enriquecendo gradualmente. Como resultado da política do Sistema de Cantão do governo Qing, que exigia que os comerciantes estrangeiros, durante a época em que não havia comércio, deixassem Cantão (Guangzhou) para os seus países de origem ou para uma estadia em Macau, os Parses estabeleceram-se nesta cidade, aonde formaram uma comunidade com alguma importância na economia local. Em 17 de Março de 1829, Cursetjee Framjee, um proeminente comerciante de Bombaim, na Índia, morreu em Macau aos 56 anos. Em reconhecimento pelo seu estatuto social, a comunidade Parse solicitou à administração portuguesa de Macau a compra de um terreno para o seu enterro. Mais tarde, o local tornou-se num cemitério para membros da comunidade Parse. Posteriormente, após a Guerra do Ópio, a maioria dos parses mudou-se para Hong Kong para negociar e comerciar, e alguns tornaram-se mercadores abastados com a criação do porto de Hong Kong.
O Cemitério dos Parses é um testemunho importante da diversidade religiosa de Macau e da coexistência pacífica entre as culturas orientais e ocidentais. Devido à sua localização única ao longo da Rota Marítima da Seda, muitos Parses sentiram-se atraídos para aqui viverem e fazerem comércio, desempenhando assim um papel positivo na economia de Macau, sendo o Cemitério Parse um testemunho histórico importante relacionado com o período da dinastia Qing da Rota da Seda Marítima em Macau. Também é interessante notar que os Parses gostavam de usar brincos, e por isso eram popularmente apelidados de “Orelhas Grandes”, devido à sua crença única: “quanto maior o brinco, mais rico é o seu portador”. E como os Parses estavam envolvidos no negócio de empréstimos com altas taxas de juros, a alcunha de “Orelhas Grandes” tornou-se num sinónimo de gíria para agiotas na cultura cantonense.
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