Bens imóveis classificados

AM050-Antigo Matadouro Municipal

Localização: Macau
Categoria: Edifícios de interesse arquitectónico
Descrição do Local: Rua de S. Tiago da Barra

O antigo Matadouro da Barra era uma importante estrutura municipal gerida pelo Leal Senado (antecessor do Instituto para os Assuntos Municipais), apresentando um conjunto de três edifícios, destinados ao abate de bovinos e suínos, com os seus depósitos de gado nas proximidades. Foi o único matadouro municipal da Península de Macau no século XX. De acordo com o Despacho do Governador n.º 75 do Boletim Oficial de 22 de Outubro de 1873, foi construído um matadouro na zona da Barra e colocado sob a gestão do Leal Senado. O Relatório de Melhoramentos Materiais Urbanos de Macau, de 20 de Novembro de 1883, publicado pelo governo português de Macau, salientava que o matadouro municipal era "um dos factores que contribuíam para a má higiene da cidade", na medida em que "não se encontrava em condições satisfatórias" em termos de equipamento, com má ventilação, espaço insuficiente, piso de cascalho propenso a infiltrações" (referindo-se à infiltração de águas residuais contaminadas com sangue no piso de cascalho). Assim, a comissão responsável pelo estudo da melhoria das condições materiais de Macau recomendou que o matadouro fosse transferido para as proximidades da Fortaleza Dona Maria II.

Porém, de acordo com os registos históricos e o plano (desenho), o governo começou a construir em 1887 instalações auxiliares, como currais e locais de armazenamento de gado, nas proximidades do antigo Matadouro da Barra, e no plano (planta) já consta o complexo existente, que não estava nas tais condições precárias, conforme descrito no referido relatório, e mostra que o matadouro não terá saído da Barra. Portanto, presume-se que a estrutura tenha sido construída depois de 1883, mas antes de 1887, e foi alterada entre 1916 e 1917 para formar um complexo composto por depósitos de gado, escritórios e um matadouro. Toda a estrutura é claramente visível em fotografias históricas da década de 1920 e em fotografias aéreas de 1941, situadas ao longo da Doca da Barra (antigas Oficinas Navais).

Entretanto, as leis e regulamentos relacionados com o abate de animais em Macau também foram melhorados. De acordo com o Regulamento dos Matadouros, promulgado pelo governo português de Macau e publicado no Boletim Oficial de 8 de Julho de 1882, já antes de 1857 existiam matadouros oficiais, supervisionados pelo Leal Senado, com as respectivas leis e regulamentos. O Regulamento dos Matadouros estipulava que todos os animais utilizados para alimentação deveriam ser colocados em quarentena obrigatória antes de serem mantidos nos depósitos, e que deveriam ser abatidos, cortados e lavados no Matadouro da Barra antes de a carne ser enviada para os vendilhões do mercado.  

No ano seguinte, o governo português de Macau publicou o já referido Relatório de Melhoramentos Materiais Urbanos de Macau, de 20 de Novembro de 1883, que reiterava a regulamentação do matadouro, incluindo a proposta de construção de edifícios anexos e o tratamento a dar às miudezas do gado. Em 1925, o governo promulgou um (novo) Regulamento dos Matadouros, o Regulamento da Armazenagem de Gado e o Regulamento da Armazenagem de Suínos, melhorando assim as instalações de abate e as normas de higiene do Matadouro da Barra e adoptando equipamentos mecanizados para tornar o matadouro mais seguro e eficiente.

À medida que a procura de abate continuava a aumentar, um dos depósitos de gado adjacentes ao matadouro foi reconvertido para fazer parte do matadouro, o que ajudou a separar o abate de suínos e bovinos. Somente em 1987, quando o serviço municipal de abate foi formalmente transferido para a Ilha Verde, é que o Matadouro da Barra e os edifícios conexos deram por finda a sua missão histórica de mais de um século e foram reconvertidos em dormitórios, escritórios e arquivos.

O antigo Matadouro da Barra, situado na encosta da Colina da Barra há mais de um século, foi um importante empreendimento municipal em Macau no final do século XIX e início do século XX. O complexo foi pensado para atender às exigências higiénicas de um matadouro para abate, enquanto o seu desenho exterior se caracteriza por uma arquitectura eclética, típica da integração de funcionalidade e estética, e representativa do então desenvolvimento municipal da cidade. Há já um século, Macau começou a regular o fornecimento, exame, abate, distribuição e transporte de animais para alimentação e a criar um sistema de supervisão municipal, um indicador da modernização da cidade. O Matadouro da Barra e a sua regulamentação foram símbolos importantes dessa modernização e um testemunho essencial do progresso gradual de desenvolvimento urbano de Macau.