Como um dos muitos templos de Foc Tac na cidade (dedicados a Tou Tei, o Deus da Terra), o Templo de Foc Tac sito na Rua do Teatro é um pequeno edifício de estilo Lingnan de um só piso, uma única divisão e com apenas um vão, apresentando um tradicional telhado inclinado de estilo chinês. O edifício tem uma porta com uma moldura em granito, com decorações no topo esculpidas em pedra representando um par de morcegos, e outras decorações finamente esculpidas nos beirais. No interior, o altar-mor é dedicado a “Tou Tei Kung”, o Deus da Terra, e o altar lateral está dedicado a “Tou Tei Po”, a Deusa da Terra, numa configuração que é rara de encontrar em Macau. O templo também tem mesas de incenso, incensários, dísticos e tabuletas cerimoniais, que foram doadas por comerciantes e moradores da zona ao longo dos anos.
Quando a proibição de comércio marítimo (Haijin) terminou em 1684, o governo Qing estabeleceu quatro principais filiais alfandegárias, respectivamente em Jiangsu, Zhejiang, Fujian e Guangdong. Em 1688, foi criada em Macau uma sucursal da Alfândega de Guangdong (Guanbu xingtai) uma das sete sucursais deste organismo que supervisionava o comércio exterior da China, e que contava com quatro repartições fiscais próximas de Damatou (Rua do Teatro), Templo de A-Má, Praia Grande e Portas do Cerco. A zona em redor da Rua do Teatro, que ficava sob a pouco profunda “Baía Norte”, abrigou um importante cais durante as dinastias Ming e Qing, e o Templo Foc Tac na Rua do Teatro, que foi construído antes de 1796, era na verdade o templo guardião daquele terminal de cais naquele tempo.
A partir de meados do século XIX em diante, a antiga administração portuguesa de Macau realizou grandes obras de aterro na “Baía Norte”, incluindo a zona a poente da actual Rua do Teatro. Algumas ruas locais adquiriram o seu nome em chinês por referência aos antigos cais. Por exemplo, o nome chinês da Rua do Teatro é Damatou (Grande Cais), e o da Rua dos Faitiões também se refere a um tipo de embarcação. Hoje em dia, já não existem os antigos edifícios e instalações relacionadas com as antigas actividades marítimas, tais como o cais de Damatou, o Guanbu xingtai e a Repartição de Impostos de Damatou, restando apenas o Templo Foc Tac (na Rua do Teatro) na zona da “Baía Norte” do Porto Interior, como uma relíquia arquitectónica representativa daquela outrora próspera época. Sendo uma das sete delegações da Alfândega de Guangdong instalada na cidade durante a dinastia Qing, também demonstra bem como Macau manteve intensas relações comerciais e marítimas com o ocidente. O Templo Foc Tac, construído perto do antigo cais, servia de local de culto para os comerciantes locais, residentes e pessoas envolvidas nas antigas actividades marítimas, e é um testemunho importante sobre o desenvolvimento do comércio marítimo e sobre a transformação urbana de Macau.
A Crença e os Costumes de Tou Tei (Deus da Terra) têm uma longa tradição em Macau. As Celebrações do Tou Tei ocorrem todos os anos no 2º dia do 2º mês lunar, e alguns templos locais dedicados a Tou Tei ainda realizam grandes celebrações, incluindo rituais e orações, danças do leão, apresentações de Óperas Tradicionais Chinesas para Divindades e banquetes, criando eventos muito animados, num contexto de rituais e festival de culto que é muito importante para a comunidade chinesa da cidade.
