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MM048-Ruínas do Colégio de S. Paulo (Vestígios do Colégio e Antigo Muro: dois troços no Pátio do Espinho; troço no Beco do Craveiro)

Localização: Macau
Categoria: Monumentos
Descrição do Local: Calçada de S. Paulo; Pátio do Espinho; Beco do Craveiro

O Colégio de S. Paulo, fundado pela Companhia de Jesus em 1594, foi a primeira instituição de ensino superior ocidental em território chinês, na qual os missionários enviados para o Japão e para a China recebiam formação. O Colégio permitia-lhes adquirir conhecimentos sobre línguas, religiões e filosofias orientais, bem como transmitir conhecimentos científicos, musicais e artísticos ocidentais, desempenhando assim um papel activo e com implicações de longo alcance na promoção do intercâmbio cultural entre o Oriente e o Ocidente.

Segundo registos históricos documentados, “a cerimónia de inauguração do Colégio de S. Paulo teve lugar no dia 1 de Dezembro de 1594 nos edifícios recém-construídos do Colégio, localizados numa colina com uma bela envolvente. O Colégio ocupava uma área de grande extensão que incluía vastos terrenos para futuro desenvolvimento. Os novos edifícios eram espaçosos, bem iluminados e bem ventilados.”[1] O Colégio incluía uma igreja, espaços de ensino, pátios, dormitórios, uma tipografia, uma farmácia, uma horta e outros espaços, sendo o seu perímetro delimitado por um muro. A Carta Ânua do Colégio de Macau de 1594 refere que “[o Colégio] foi construído numa colina, estando circundado por um alto muro (...) A colina da Fortaleza do Monte era rodeada por dois muros de onde se podia ver o Colégio.” [2] No mesmo ano, o Visitador da Companhia de Jesus no Extremo Oriente, Alessandro Valignano, referiu igualmente, em carta dirigida ao Provincial da Companhia de Jesus: “Construímos um sólido muro em redor de todas as construções do Colégio que se encontram junto à Colina, ficando [o Colégio] rodeado pelo mesmo.”[3] Em 1601, o Colégio sofreu danos com um incêndio devastador e foi reconstruído. A fim de concretizar o conceito medieval de colégio como jardim fechado (Hortus conclusus), o muro foi novamente erigido em 1606, tendo sido concluído no mesmo ano. Em 1762, devido à supressão da Companhia de Jesus em Portugal, o Colégio de S. Paulo foi encerrado, cessando igualmente a actividade missionária por si promovida. Em 1835, o complexo foi novamente assolado por um violento incêndio, vendo destruída a maior parte dos seus edifícios.

Apesar das marcas do tempo, dos incêndios e do abandono, alguns vestígios do Colégio de S. Paulo sobreviveram ao nível das fundações. Em 1995, foram descobertos vestígios arqueológicos de pátios, corredores, de uma sala de oração, valas de drenagem e guarda-corpos na zona oriental do complexo, incluindo artefactos de cerâmica e moedas, a maioria dos quais remontam a finais da Dinastia Ming e inícios da Dinastia Qing. Em pinturas a óleo de finais do século XVIII e inícios do século XIX, encontra-se representado o troço sul do muro do Colégio, que descia a partir da colina da Fortaleza do Monte pela vertente sudoeste. Em mapas de Macau de 1886, 1889 e 1912, para além da representação do troço sul do muro, que desce na mesma direcção, acrescentam-se ainda a delimitação do Colégio de S. Paulo e a localização exacta das secções leste, oeste e norte.

Conjugando a documentação existente e a análise dos vestígios arqueológicos, inferiu-se que os actuais troços do Pátio do Espinho e parte do muro de chunambo no Beco do Craveiro deviam integrar o muro do Colégio de S. Paulo. O muro de chunambo situado a norte do Pátio do Espinho tinha uma orientação este-oeste, com um comprimento de 135,2 metros, uma altura de cerca de 3,4 a 4,4 metros e uma espessura de 0,7 metros no topo e de cerca de 1,6 a 2 metros na base, estando cercado, a norte e a sul, por edifícios residenciais e correspondendo ao troço norte do muro do Colégio. O muro de chunambo situado a oeste do Pátio do Espinho tinha uma orientação nordeste-sudoeste, com um comprimento de 6 metros, uma altura de cerca de 2,3 a 2,5 metros e uma espessura de 0,6 metros, correspondendo ao troço ocidental do muro do Colégio. O muro de chunambo situado no Beco do Craveiro tinha uma orientação nordeste-sudoeste, com um comprimento de 20 metros, uma altura de cerca de 2,3 a 2,5 metros e uma espessura de 0,6 metros, correspondendo ao troço sul do muro do Colégio e pode ser visto, juntamente com um vão de porta entaipado, junto ao Colégio Mateus Ricci (Secundário), com o qual confina.


[1] Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, Portugal, cópia n.º 1695. Citado por Lei Heong Iok, Aomen Sheng Baolu xue yuan yan jiu (“Estudos sobre o Colégio de S. Paulo de Macau”), Macau: Diário de Macau, 2001, p. 58.

[2]  Lei Heong Iok, Aomen Sheng Baolu xue yuan yan jiu (“Estudos sobre o Colégio de S. Paulo de Macau”), Macau: Diário de Macau, 2001, p. 58.

[3]  Takase Kōichirō, Cultura e Aspectos da Era Cristã (versão japonesa), Tóquio, Livraria Yagi, 2002, pp. 350.353. Citado por Qi, Yinping, Estudos sobre o Colégio de S. Paulo de Macau: Instituições de Ensino da Companhia de Jesus no Oriente, Macau: Instituto Cultural e Xangai: Imprensa Académica de Ciências Sociais, 2013, p. 96.