Bens imóveis classificados

MM047-Vestígios históricos encontrados em fosso aberto no substrato rochoso, na Rua de D. Belchior Carneiro

Localização: Macau
Categoria: Monumentos
Descrição do Local: Rua de D. Belchior Carneiro

Entre 2010 e 2012, o Instituto Cultural encarregou o Instituto de Arqueologia da Academia Chinesa de Ciências Sociais de empreender um trabalho arqueológico em quatro fases na Rua de D. Belchior Carneiro, n.º 16-22, a qual, outrora, integrava o terreno do Colégio de S. Paulo. Na Rua de D. Belchior Carneiro, n.º 20, foi descoberto um grande fosso aproximadamente circular, com um diâmetro de cerca de 5,8 metros e uma profundidade de cerca de 9,9 metros. O fosso consiste numa cavidade cilíndrica em forma de poço escavado com mão-de-obra humana no substrato rochoso do lado norte da colina da Fortaleza do Monte. Durante a escavação, constatou-se que as paredes do poço apresentavam ligeiras diferenças, sendo as paredes dos lados ocidental e norte mais verticais e regulares até a uma cota de 3 metros abaixo da superfície do solo. Abaixo dos 3 metros, as mesmas paredes são mais irregulares, podendo ver-se grandes protuberâncias rochosas, possivelmente devido à dureza da rocha e à consequente dificuldade de escavação. As paredes escavadas estão cobertas, de cima a baixo, por marcas de cinzel.

Um grande número de fragmentos de cerâmica, materiais de construção e outros artefactos arqueológicos foram desenterrados do fosso, incluindo tigelas, pratos e tampas de porcelana azul e branca decorada com motivos florais e figuras de pássaros e cervos, entre os quais se encontrava uma profusão de fragmentos de porcelana Kraak de exportação. Foram ainda desenterrados vários outros artefactos de cerâmica, incluindo potes com esmalte castanho-escuro e tigelas de céladon, bem como telhas em forma de gota, telhas côncavas, telhas de beiral com motivos florais, bases de suporte de peças de cerâmica e fragmentos de concha (Placuna placenta). Segundo os investigadores, a maioria destes fragmentos deverá, em princípio, remontar ao período entre finais do século XVI e inícios do século XVII, correspondendo aproximadamente a finais do reinado do imperador Wanli e aos reinados dos imperadores Tianqi e Chongzhen da Dinastia Ming, embora algumas peças remontem ao período do reinado do imperador Kangxi da Dinastia Qing. No que respeita à sua origem, a maioria das peças de porcelana azul e branca foi fabricada em fornos civis, em Jingdezhen. Dado ter sido escavado numa superfície rochosa, o fosso de quase 10 metros de profundidade apresenta, no plano horizontal, uma forma relativamente regular, apresentando vestígios evidentes de lavramento nas quatro paredes. Por conseguinte, inferiu-se que a sua escavação tenha constituído uma obra de grande escala executada por mão-de-obra humana, levando os investigadores a concluir que a hipótese de existir uma relação entre este fosso e o poço de água referido na Carta Ânua do Colégio de Macau não deve ser descartada.

A partir do momento em os portugueses se estabeleceram em Macau, o território transformou-se numa base para o comércio externo, de onde eram exportados produtos chineses, como seda e porcelana, de Macau para o Japão, para o Sudeste Asiático e para a Europa. O grande número de fragmentos de porcelana e cerâmica de finais da Dinastia Ming e inícios da Dinastia Qing, encontrado nas escavações arqueológicas em fosso aberto na Rua de D. Belchior Carneiro, reveste-se de uma grande importância para o estudo da história de Macau, testemunhando igualmente o papel significativo de Macau como porto de trânsito e posto comercial na época da Rota da Seda Marítima e das trocas comerciais marítimas entre o Oriente e o Ocidente.