Os portugueses construíam as suas cidades com base em “ruas direitas” que interligavam diversos espaços públicos e que continham igrejas, entidades municipais, espaços para actividades comerciais, etc. A cidade de Macau foi também desenvolvida segundo este modelo, com os bairros residenciais portugueses, como o Bairro de S. Lourenço, a serem estabelecidos ao longo de uma rua direita. A Rua Central, na cidade de Macau, tal como o nome indica, segue o referido modelo das ruas direitas. As lojas da Rua Central foram desde sempre ao encontro das necessidades diárias dos portugueses que habitavam no Bairro de S. Lourenço.
As “Casas Moosa”, na Rua Central, pertenciam a muçulmanos provenientes da Índia. Cassam Moosa veio para Macau para se dedicar ao comércio, adoptando o seu nome “Cassam” como firma para a sua empresa. Os primeiros anúncios publicitários da Casa Cassam indicam que a mesma iniciou a sua actividade em 1880, e podemos presumir que ambos os edifícios já haviam sido construídos aquando da abertura do negócio, o que comprova que aquele ocupava um papel importante no seio da actividade comercial de Macau.
A Rua Central foi, durante séculos, uma das áreas comerciais mais prósperas da cidade. As Casas Moosa foram construídas antes de 1880 e, com os seus mais de 130 anos, testemunham a evolução histórica da Rua Central, o processo de enraizamento e o modo de vida dos grupos de minoria em Macau, podendo servir de referência para o estudo sobre as comunidades de minoria no território.
Até às décadas de 1960 e 1970, as casas de dois ou três pisos da Rua Central eram construídas segundo o modelo tradicional de casa-loja, sendo usadas tanto para comércio como para habitação, com o piso térreo a servir de loja e os pisos superiores como residência. Actualmente, apenas os n.ºs 45-47 da Rua Central retêm intactas as características arquitectónicas dessa altura: o n.º 45 mantém em uso as persianas de estilo português no 1.º e 2.º pisos, enquanto o n.º 47 apresenta mais particularidades, nomeadamente empregando como elementos decorativos janelas com lâminas de madrepérola e balaústres no primeiro piso e, excepcionalmente, um simples dougong (elemento estrutural tradicional chinês) em madeira nos beirais da casa, pelo que apresenta um estilo arquitectónico misto luso-chinês. Os edifícios reflectem, desta forma, as características arquitectónicas de Macau num contexto de multiculturalismo. Por outro lado, o dougong chinês constitui um elemento bastante raro nas casas-lojas de Macau, reflectindo assim a especificidade arquitectónica das casas-lojas do século XIX no seu formato tradicional. Deste modo, as Casas Moosa servem também como um importante exemplo para o estudo das casas-lojas de Macau.