Introdução do “Centro Histórico de Macau”

  • A concepção do “Centro Histórico de Macau”
    Nos termos do ponto 12 do artigo 5o da Lei n.º 11/2013 - “Lei de Salvaguarda do Património Cultural” define-se o seguinte:
    “Centro Histórico de Macau”, o conjunto classificado, nos termos da presente lei, de interesse cultural relevante, constituído por monumentos, edifícios de interesse arquitectónico, conjuntos e sítios, bem como pelas respectivas zonas de protecção e inscrito pelo Comité do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, adiante designada por UNESCO, na “Lista do Património Mundial”.



Delimitação do “Centro Histórico de Macau”

 

  • A composição do“Centro Histórico de Macau”
    O “Centro Histórico de Macau” tem uma área total de 1.23km2, e é  composto por duas partes:
    A primeira parte é composta por um itinerário com 8 praças e cerca de 22 edifícios históricos arquitectónicos, incluindo o espaço público que forma o roteiro desta área central. As 8 principais praças desta zona incluem o Largo do Templo A-Má, Largo do Lilau, Largo de Santo Agostinho, Largo do Senado, Largo da Sé, Largo de S. Domingos, Largo da Companhia de Jesus e Largo de Camões. Esta zona integra cerca de 22 edifícios históricos classificados, incluindo o Templo de A-Má, Edifício do Quartel dos Mouros, Casa do Mandarim, Igreja de S. Lourenço, Seminário e Igreja de S. José, Teatro D.

    Pedro V, Biblioteca Sir Robert Ho Tung, Igreja de Sto. Agostinho, Edifício do Leal Senado, Templo Sam Kai Vui Kun, Edifício da Santa Casa da Misericórdia, Igreja de Sé, Casa de Lou Kau, Igreja de S. Domingos, Ruínas de S. Paulo, Templo de Na Tcha, Troço das Antigas Muralhas de Defesa, Fortaleza do Monte, Igreja de Sto. António, Casa Garden, Cemitério Protestante, Fortaleza da Guia (incluindo Farol da Guia e da Igreja de Nossa Senhora da Guia).

    A segunda parte corresponde a uma zonas de protecção que apresenta características históricas da paisagem urbana, incluindo elementos importantes da estrutura e da configuração do espaço urbano original, no que diz respeito a um núcleo de monumentos de grande significado.

    As componentes do Centro Histórico de Macau incluem edifícios de valor histórico relevante, eixos viários de interligação entre os monumentos e zonas de tampão em redor desses núcleos, representando os principais elementos que estiveram na origem da cidade.

 

  • A identidade do “Centro Histórico de Macau”
    Em meados do séc. XVI Macau começou a ser reconhecida como um importante porto de intercâmbio internacional na Ásia, permanecendo, até ao séc. XIX, como uma das principais portas de acesso do exterior à China, o que trouxe grande riqueza e um fluxo constante de pessoas ao território. O intercâmbio e a integração culturais operados na cidade transformaram-na de pequena localidade piscatória na metrópole internacional que reconhecemos hoje em dia, tornando Macau num dos primeiros e mais importantes pontos de contacto entre a China e as culturas modernas ocidentais.

    O “Centro Histórico de Macau” corresponde à antiga zona aonde os Portugueses estabeleceram as suas primeiras residências, sendo um importante testemunho do encontro e do diálogo entre o Ocidente e o Oriente, reflectindo também a abertura da civilização Chinesa ao influxo de conceitos da cultura Ocidental, assumindo-se como prova da coexistência pacífica entre as duas culturas, conseguindo manter até aos nossos dias a sua estrutura original, e preservando as tradições e costumes únicos locais. O “Centro Histórico de Macau” é, não só, uma importante parte na vida quotidiana dos cidadãos, mas também um valioso legado cultural da Humanidade.

 

  • O valor do “Centro Histórico de Macau”
    O “Centro Histórico de Macau” foi inscrito na Lista do Património Mundial, em 15 de Julho de 2005, com base nos seguintes critérios ii),  iii),  iv),  vi) conforme se passa a transcrever:

    ii)  Ser testemunho de um intercâmbio de influências considerável, durante um dado período ou numa determinada área cultural, sobre o desenvolvimento da arquitectura ou da tecnologia, das artes monumentais, do planeamento urbano ou a criação de paisagens;

    (iii) Constituir um testemunho único ou pelo menos excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização viva ou desaparecida;

    (iv) Representar um exemplo eminente de um tipo de construção ou de conjunto arquitectónico ou tecnológico ou de paisagem que ilustre um ou mais períodos significativos da história humana;

    (vi) Estar directa ou materialmente associado a acontecimentos ou a tradições vivas, ideias, crenças ou obras artísticas e literárias de significado universal excepcional.

 

O Comité do Património Mundial teve ainda em conta as seguintes observações de elevada apreciação:

  1.  O “Centro Histórico de Macau” engloba o mais antigo conjunto arquitectónico europeu existente em solo Chinês na actualidade.

    O “Centro Histórico de Macau” engloba o mais antigo conjunto arquitectónico Europeu existente em solo Chinês, sendo a cidade portuária mais antiga da Ásia. A estrutura urbana da cidade original manteve-se bem preservada, e apresenta um grande número de exemplos arquitectónicos que demonstram bem a mistura entre as culturas Chinesa e Ocidental, integrando igualmente técnicas de construção que são o resultado do intercâmbio cultural de que Macau foi o exemplo mais duradouro.


     
  2. O “Centro Histórico de Macau” constitui um testemunho sólido do papel missionário da cidade no Extremo Oriente, reflectindo igualmente a disseminação das tradições populares Chinesas no Ocidente.

    A partir de meados do século XVI, Macau tem sido um centro de difusão missionária católica na China e no Extremo Oriente, servindo de base missionária para diferentes grupos, incluindo os Jesuítas, Agostinhos, Dominicanos, Franciscanos, entre outros grupos católicos, que basearam as suas actividades em Macau, e aqui desenvolveram a educação com diversas acções seminaristas, notando que muitos destes grupos religiosos e respectivas igrejas ainda se encontram em funcionamento.

    Os Protestantes estabeleceram a sua primeira base na China, a partir de Macau, desde o século XIX.

    Pode dizer-se que o “Centro Histórico de Macau” é um testemunho sobre as primeiras acções missionárias católicas ocidentais na China e no Extremo Oriente. Em simultâneo, e desde o século XV, a crença na Deusa de A-Má que tem a sua origem na China, e que sempre se manteve em Macau, acompanhou o desenvolvimento da cidade, sendo igualmente disseminada para outras regiões do Sudeste da Ásia, e mesmo da Europa, em paralelo com as relações comerciais que tinham Macau como base.


     
  3. O “Centro Histórico de Macau” é o produto de um intercâmbio cultural único entre o Ocidente e o Oriente, sendo o conjunto patrimonial mais característico e significativo da China, nesta vertente.

    A área do “Centro Histórico de Macau” apresenta uma estrutura urbana diversificada, que se encontra dividida em diversos distritos, que apresentam vários ambientes e vivências sociais, incluindo diferentes crenças e tradições religiosas. As diferentes comunidades e culturas têm devoções que são próximas, como é o exemplo do Templo de A-Má estar associado à protecção de navegadores, e o caso da Igreja de S. Lourenço que também tem tradições semelhantes. O paralelismo entre as comunidades também é bem visível no espaço urbano, como serve de exemplo o Largo do Lilau que fica junto ao complexo da Casa do Mandarim. Também no caso do Seminário de S. José o ensino era feito por padres ocidentais e a maioria dos estudantes eram missionários Chineses.  O Largo de Sto. Agostinho é um outro bom exemplo de como as diferentes comunidades usavam os mesmos espaços, como é o caso do Teatro D.

    Pedro V e edifício da Biblioteca Sir Robert Ho Tung. O Largo do Senado sempre foi igualmente um local que concentrou as duas comunidades lado a lado. Pode-se observar também que a notável Igreja de S. Domingos fica junto à zona do Mercado de S. Domingos, que corresponde à zona do antigo Bazar Chinês. O contraste de escalas que se vê entre as Ruínas de S. Paulo e o Templo de Na Tcha, e o caso da Capela da Guia que apresenta pinturas murais com temas Chineses e Ocidentais misturados no seu interior, são também exemplos bem demonstrativos da interacção entre as diferentes comunidades, com simbiose e respeito mútuos.


     
  4. O “Centro Histórico de Macau” apresenta uma infra-estrutura social completa que assimilou e soube manter vivas as tradições de diferentes culturas que se influenciaram mutuamente.

    A área do “Centro Histórico de Macau” é pequena, mas é representativa de diferentes culturas, religiões e até mesmo hábitos de vida. O espaço urbano reflecte as condições de vida reais dos cidadãos, com a coexistência das culturas orientais e ocidentais.

    O “Centro Histórico de Macau” preserva a memória colectiva do passado, incluindo as tradições específicas dos residentes de diferentes nacionalidades, incluindo Portugueses, Chineses e outras nacionalidades, que partilham a vivência da mesma cidade com maneiras de estar específicas das suas próprias tradições e estilos de vida.

    Todos os anos, diferentes expressões do património intangível de Macau, tais como, o festival da Deusa de A-Ma, as celebrações do dia de Na Tcha, o festival do dia de Tou Tei, e também do dia de Kun Iam, atraem milhares de pessoas. De igual modo, a Procissão do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, a Procissão de Nossa Senhora de Fátima mantém também as suas tradições seculares em Macau, entre outras manifestações culturais, tais como as celebrações do Ano Novo Chinês, o dia do Buda, o festival dos barcos dragão, a festa do bolo lunar, bem como as celebrações da Páscoa, do Natal e do Ano Novo Ocidental, sendo actividades que estão também associadas a feriados oficiais e que os residentes locais de diferentes culturas celebram conforme os seus próprios costumes.