Património Cultural Intangível

Crença e Costumes de A-Má

Estado: Inscrita na Lista do Património Cultural Intangível

Localizado na margem ocidental do Delta do Rio das Pérolas, Macau foi, há várias centenas de anos, um porto de pesca, conhecido como “A-Ma-Gau” na dinastia Ming. No séc. XVI, os portugueses desembarcaram no costa junto ao Templo de A-Má; assim, o nome português “Macau” está também relacionado com as crenças e costumes de A-Má.

O Templo de A-Má foi construído durante a dinastia Ming, revelando que os costumes e crenças de A-Má estavam já enraizadas na comunidade de Macau há mais de quatrocentos anos. A população indígena de Macau era constituída principalmente por pescadores e estes veneravam Mazu – nascida com o nome de Lin Moniang em Putian, Província de Fujian – como sua deusa. De acordo com a lenda, esta abençoava os pescadores quando estes se aventuravam no mar para pescar, concedendo paz e sorte, tornando-se assim a protectora e deusa de navegadores e pescadores. Mais tarde, os pescadores de Fujian levaram o culto de Mazu para a costa da Província de Guangdong, sendo endeusada pela comunidade e sendo-lhe concedidos títulos por vários imperadores de diferentes dinastias. A sua influência está entrincheirada na costa sudoeste da China e em Taiwan.

Os costumes e crenças de Mazu em Macau adoptam a sua própria lenda única. Mazu é a divindade mais importante para os residentes locais, semelhante aos seus antepassados e assim reverenciada como “A-Má” (Avó). O Festival de A-Má (Festival de Tin Hau) realiza-se no 23º dia do 3.o mês do calendário lunar, durante o qual os pescadores e os residentes espontaneamente prestam culto, fazem ofertas e angariam fundos. Em frente do templo de A-Má, decoram a zona com lanternas coloridas, veneram a deusa, fazem jogos e leilões. São também levadas à cena óperas chinesas dedicadas à deusa num teatro construído em bambu propositadamente para o efeito, o que deu origem à Associação de Ópera Chinesa de Moradores Terrestres e Marítimos da Barra.

Entre os sons de gongos e tambores, a Deusa é convidada a assistir à ópera chinesa – facto conhecido como “A-Ma assistindo às óperas” - o que significava entretenimento para as pessoas e para a Deusa. A seguir ao espectáculo, a Deusa é escoltada de volta ao templo a fim de os crentes mostrarem o seu devido respeito e honra. As pessoas imploram-lhe por segurança no mar e na terra, pela prosperidade dos negócios e pela protecção dos filhos.

No 16º ano do reinado do Imperador Qianlong da dinastia Qing (1751), a primeira monografia sistemática sobre Macau em toda a história chinesa – Breve Monografia de Macau, da autoria de Yin Guangren e Zhang Rulin – descreve a lenda de A-Má. O livro História Antiga de Macau, do historiador sueco Anders Ljungstedt, bem como numerosas obras literárias e documentos ocidentais fornecem também descrições detalhadas sobre A-Má. As descrições estendem-se também à pintura, de que é exemplo um quadro de 1863, do pintor alemão Eduard Hildebrandt, de uma ópera chinesa representada sob telheiros de bambu, em frente ao Templo de A-Má, por ocasião do festival dedicado à deusa.

A cultura da Deusa A-Má está enraizada em Macau há centenas de anos, tendo um impacto no território. Os paus de incenso nunca param de arder no interior do Templo de A-Má, retendo-se a integridade dos costumes e crenças tradicionais de A-Má até ao presente. O templo é inundado de devotos de vários cantos do mundo na véspera do Ano Novo Lunar e durante o Festival de A-Má, intensificando-se o cheiro do incenso e o ambiente de harmonia. Os costumes e crenças de A-Má de Macau constituem uma importante parte do culto de Mazu em território chinês, caracterizando-se pela sua longa história, pelas raízes na comunidade, pela continuidade e imutabilidade ao longo das épocas e pelas suas influências tanto no país como no estrangeiro. É um festival popular crucial em Macau e de grande impacto.